12.9.11

A moça metódica

A moça metódica sentou na minha frente mais uma vez. Acho que era a mesma mesa daquela outra vez. Entre uma garfada e outra ela me analisava.Certamente viu a morte no meu prato com a forma da alface mal lavada e da beterraba mal conservada. Lembrei da aula de cálculo na faculdade, quando calculamos por curiosidade a velocidade da proliferação das bactérias na beterraba. Impressionante o saquinho que guardava meus talheres ter voado pra perto da moça metódica - o dela estava devidamente preso embaixo do prato com arroz, feijão e batata (cozida). Quando o garçom trouxe o "copo de água" dela, ela corrigiu a posição do copo, que formava linha com o porta-guardanapo.Eu acelerei minhas garfadas. Quase escondendo minha alface mal lavada, beterrabas mal conservadas, arroz com lentilha e corações de dez galinhas. Dos corações eu tive vergonha: a moça metódica tinha ares de vegetariana. Tenho quase certeza que ela contou quantas galinhas eu ajudei a matar. Matei mais rápido então. A fome. Vomitei letras corridas desejando matar os métodos. Enchendo meu texto com pontos finais.

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