9.11.12

Depois de ler Clarice

Depois de ler Clarice, veio a vontade de contar a minha vida também. Deve existir um bom texto na multidão da cidade, no trajeto diário, em Niterói ou no Rio de Janeiro. Deve existir alguma crise existencial quase poética nas malas que um monte de gente carrega para passar o dia - nas minhas, algumas frutas, o salto alto que substitui a sapatilha que anda sozinha, maquiagem pra esconder a noite mal dormida e as tantas, tantas letras que leio pra fugir do tempo perdido no trânsito, quando eu consigo passar pelo caos sentada.
Talvez exista alguma história boa na vida das pessoas que esbarram, aceleradas, naquelas que insistem nos passos mais tranquilos, tão únicos diante de tanta velocidade - eu sou dessas, que passa sem ver e que chama mentalmente de "lerdo" aquele que obstrui meu caminho. É feio, mas assumo. Sou impaciente, ando rápido, quase corro. Vivo atrasada porque não sou muito organizada e sempre esqueço, perco, não encontro, não me encontro antes de sair de casa, antes de sair de e para qualquer lugar. Faço tudo ao mesmo tempo e mal olho ao meu redor - no meu umbigo eu me perco. Nem sei como faço poesia. Talvez eu até saiba: olho tão pouco pro mundo que quando olho fico maravilhada ou  muito decepcionada. As duas coisas me trazem a inspiração.
Já me perdi. Eu sempre me perco ao falar da minha vida, de mim mesma. É que vou escrevendo e depois que eu escrevo eu acho que não é bem assim. Tenho a impressão de que tenho várias vidas, de que sou muitas e as muitas que sou discordam entre elas (ou entre eus). Uma vez me disseram que era falta de água no mapa natal, que quem é pouco líquido não se entende muito mesmo. Pode ser. Pra ser sincera, pra mim isso já serve de justificativa - soa curto e improvável, como deve ser a resposta pra quem precisa de uma.
Termino este texto - sim, termino porque sou impaciente, ando rápido, quase corro e estou de saco cheio - com a impressão de que é melhor escrever poesia. Ela vem pra mim como um clarão. Escrevo quando me vem um verso, às vezes com ritmo e tudo. E flui. Nem penso. Quando releio, parece que não fui eu. Algumas linhas, muito em cada uma, muita coisa e muitas interpretações em cada palavra : perfeito pra quem não se acha e que, de tão perdido, encontra um sentido.


Rebeca dos Anjos

5 comentários:

Fabio Rocha disse...

Você é eu! :)

Beijos

Fabio Rocha disse...

(Porém sou organizado e não me atraso...) XD

Elisa Cunha disse...

Faz sentido. :)

Fred Caju disse...

Eis aí quem abre o caminho de muita gente.

Lázara papandrea disse...

adorei a fluência deste teu texto e me vi nele um monte de vezes! beijos

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