"um passarinho na gaiola
me pensa
a borboleta distraída
por estar distraída
sabe a sabedoria das árvores
sem finais felizes sem lagartas sempre no instante
verde
um riacho me ri
(é raso, Heráclito)
através da mulher
o Ser me brilha tal qual a nona de Beethoven
(confesso fatigado, entre Osho, Raul, Manoel e trocentos desloucos que me soul)
é que através do viés
da curva no tato
me perco em mim, em eu, em tão pouco
que desfaço meu iluminar tão tênue
cresce no peito
a palavra
Minha
combato a sagrada luta de espadas
contra o eu
e mais ainda
contra a unha
da palavra única Minha
só Minha
a palavra Minha
é mínima
e restringe o todo a uma
o todo é um
mas é mais que só
é mais que a soma de tudo
é mais que matemática e contrato
as pessoas são pessoas são pessoas são pessoas são pessoas
no fogo
meu eu se desfaz em musgos e liquens
cada vez que respiro fundo e calo a boca de palavras tais quais essa
cada vez que salto e vôo e vou e Caio
eis que no instante mágico
em que destropecei sem medo de tropeçar
fui sem pensar em ir
boiei em vez de nadar
todas as floras da primavera me abrem
ergo mares íntimos e Netuno molhado se espanta
escrevo dragões com lápis cego
arrisco tudo
tenho epifanias com roseiras
aceito rosa e espinho
ouço a nona
e finjo fingir ser o último mestre do ar
você consegue
neste mundo de peso
vir comigo voar?"
http://dabusca.blogspot.com/2010/09/atraves-da-mulher.html
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