6.4.14

Do meu processo criativo

A minha escrita nasce de onde eu não sei. Na verdade, suspeito de que ela não seja "minha" escrita. Tenho a impressão de que sou um intermediário, principalmente quando eu falo intensamente das coisas que eu nem sinto. Sim, acredite: eu escrevo sobre as coisas que eu não sinto (e também sobre as que eu sinto).

Não, não sigo regras. Posso passar tempos sem escrever. Posso escrever em prosa, posso escrever em versos e sonho escrever um romance - este sonho mais difícil, porque minha natureza é imediatista. Se eu escrevesse um romance, teria que ser de um dia só, eu acho.

Escrevo de madrugada, escrevo de dia, na barca, no bar, em casa, em folha de pão, no celular, no blog, em qualquer lugar. Só sei que escrevo quando me vem uma inquietação no peito depois de ver uma paisagem, um fato, depois de sentir algo diferente, depois de mergulhar numa lembrança boa ou ruim. As letras parecem que batem a porta que fica na altura do estômago com tamanha força, que aí movem sozinhas os meus dedos que escrevem, que teclam, rabiscam.

Tem coisa que eu nem lembro que escrevi. E não tenho em mim o apego da autoria. Escrevo para o universo, escrevo porque é incontrolável, escrevo para transbordar e me espantar com o que escrevi.

As letras são a parte de mim que eu menos conheço, a parte mais livre de mim, a parte que eu não reviso, a parte que eu não corrijo.


Rebeca dos Anjos

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