27.10.25

À Galiza

Teu chamado em sonho
Do tempo que nossas almas sabem,
Firmado em pergaminho:
"Recomezo".

Bem naquele tempo
Em que minhas estruturas ruíam
Você veio me lembrar das construções em pedra
E dos horizontes possíveis.

E eu mudei tanto,
Mas há essa parte que nunca muda,
A parte que reconhece um lar através dos tempos:
Teu carinho em pedras, teus sussurros no vento, tuas águas que me permitem, sob a lua que, radiante, nos assiste enquanto dançamos

Você abrindo caminhos para mim
E para minha linhagem
Me falando das sacerdotisas além das brumas 
E dos nossos segredos antes esquecidos 
Pela mente e pela ilusão 

Mas o destino nos uniu mais uma vez,
Só pra eu sentir essa sensação do que é eterno
Sobre esta terra 
Só pra eu lembrar que a fé liberta e me sustenta
Apesar das chagas

Só pra lembrar do nosso caminho
Percorrido de mãos dadas
Apesar de toda saudade que eu sinto.

Eis que agora respondo ao teu pergaminho:
Quéroche.

26.8.25

Um bebê no colo 
Atacado várias vezes nos olhos 
Por aquela energia que eu conheço 

Aquela energia de caos e revolta
Que cega memórias
E sonhos infantis

Eu protejo o bebê 
Apesar da dor que atinge os meus próprios olhos
E o percebo como parte mim

É por isso que eu não vejo ainda
Tudo que é semente me ameaça 
Porque parece improvável que possa crescer
Entre tantos ataques
(Mas eu não desisto)

Eu não sei o fim porque acordo
Com meus olhos físicos secos
Me contando que eles enxergam
E sobreviveram por quarenta anos
Apesar desses dessas memórias simbólicas que ainda moram no meu inconsciente 

E o mais surpreendente?

Nisso tudo eu vejo Jung
E só por isso faz todo sentido
Conhecer a dor e os símbolos
Como um curador ferido
Que mais do que o drama,
Identifica o saber.


(Rebeca dos Anjos)

Leio um livro histórico 
Enquanto o céu se move, eterno,
Sobre a minha cabeça

Eu me dou conta de que ouço Bach
E me sinto incrivelmente pequena.

O livro fala sobre ossos absorvidos
Pela terra ácida.
Num contexto arqueológico
Ficaram somente as joias,
Provando que cristais são atemporais.

Num respiro, reflito se vale a pena ser enterrada com meu anel preferido,
Mas me vejo em 2025
E me parece mais atual virar uma árvore 
Do que ficar presa num caixão.

Termino o poema sem esperar
Que fique realmente pronto

Quando éramos pergaminhos
Talvez fôssemos imortais.

(Rebeca dos Anjos)

I understand you.

The world doesn’t know (yet)
about parties,
about celebrations.

The world doesn’t understand (yet)
about free spaces.

I know,
you tried.

You tried to be -
and only to be.

But the world doesn’t accept this.

Your light illuminated
their shadows,
and this is uncomfortable.

You know (now),
we are for the minority
because we are the minority.

And(y), this is ok.

(Rebeca dos Anjos)


Rebeca dos Anjos
Quase meia vida para entender
Que o mesmo fogo que queima
Pode forjar alicerces

Quase meia vida para aprender 
Que tudo o que me consome
Transmuta em criação 

Quase meia vida pra merecer
O conforto quente
Da lareira que antes não se continha

Quase meia vida pra conhecer
O fogo que é espírito
E iluminação.

(Rebeca dos Anjos)

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