30.11.13

Sirenes parecem ser o instrumento musical da cidade do caos. Enquanto elas tocam, assustando ambulantes, muitos passam - nem sei quantos. As pessoas aqui não se olham, com exceção de alguns homens que miram algumas bundas sem qualquer discrição. Enquanto penso sobre isso, alheia ao movimento da cidade, meu salto gruda na pedra portuguesa e alguém  (que não vi) quase passa por cima de mim.

*

Ventania. Reparo que o Rio não se sustenta sem os quarenta graus sem vento. As pessoas se assustam e a cidade voa porque no caos os objetos não estão presos à superfície. Plásticos de bancas voam. Mercadorias de ambulantes voam. O meu pensamento voa: a cidade do sufoco não sabe ventar.

*

As pessoas aqui não se olham, mas eu vi uma menininha pulando no meio da multidão que atravessava a Presidente Vargas. Ela falava do vento e curtia os cabelos ventando - a menina sabia voar e eu, por algum motivo, sonhei jogar amarelinha com ela no meio da tal avenida.

*

Paro para tomar água de coco ainda na Presidente Vargas. Água de coco na garrafa de plástico, é claro. Tento me concentrar para olhar as faces que passam. Me perco. Sigo e perco também o texto que estava na cabeça. Penso, penso, penso e perco. Olho o relógio e não olho mais as pessoas.

Estou atrasada. Eu sigo e meu texto para.


Rebeca dos Anjos

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