Há uma luta interna para que eu não me acostume:
Saio mais cedo
Morando perto
Para que o metrô parado não me atrase;
Peço licença no ônibus lotado
E agradeço;
Peço por favor
Não jogue lixo aí
Me dê aqui que eu jogo ali na lata.
Foco no amarelo do trem lotado
E fico surda diante da reclamação geral:
Respiro fundo
E agradeço
Respiro fundo
E agradeço
Respiro fundo
E agradeço
Por mais um dia de vida
Na cidade que mata um policial por dia
Por não ter sido assaltada hoje,
Pelo salário que chega atrasado,
Pela luta interna para que eu não me acostume:
Com toda essa lama de obras inacabadas,
Cheiros de esgoto e ruas não asfaltadas
Buracos no chão e rombo nos caixas
Agradeço por ainda pedir pelas vítimas dessa desordem
Por ainda me sobrar alguma sensibilidade,
Por parar, respirar, agradecer e fazer poesia,
Por torcer para que não dê merda nas Olimpíadas -
Com a benção de um Cristo Redentor.
(Rebeca dos Anjos)
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